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Wellinghton Pinto Alves


Um dos desbravadores do Vale do Ribeira

Ele foi responsável pela Construção da usina de Juquiá que trouxe luz
elétrica ao Vale

Quando chegou ao Vale do Ribeira, em 1957, o jovem Wellinghton Pinto Alves não imaginava que contribuiria tão decisivamente para o desenvolvimento da região. Ele foi responsável pela construção da primeira usina termoelétrica que trouxe luz ao Vale (antes, nas cidades maiores, havia apenas geradores que funcionavam algumas horas por dia) e construiu a SP 139, rodovia que liga Registro a Sete Barras, entre tantos outros feitos que ligaram a história desse mineiro de Três Corações, conterrâneo do Rei Pelé, ao Vale do Ribeira.

Em uma de suas viagens a São Paulo, com planos de trabalhar na construção da BR 2, atual Régis Bittencourt, em 1957, Wellinghton foi informado que precisavam de três engenheiros nas áreas em que ele era habilitado, para coordenar a construção de uma usina termoelétrica em Juquiá. 

Era engenheiro eletricista, engenheiro mecânico e engenheiro civil, se interessou pelo trabalho e foi ao Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), do Governo do Estado de São Paulo, para a entrevista. Aprovado, pediu para conhecer o local e, após dez horas de uma cansativa viagem por estrada de terra, via Itapetininga, único caminho, chegou a Juquiá.

Ao ver as dificuldades de acesso e a precária infraestrutura da região, ele voltou a São Paulo e fez uma proposta salarial superior àquela apresentada pelo DAEE. Voltou para Belo Horizonte, onde morava. Quinze dias depois recebeu um telegrama para se apresentar ao DAEE e trocou o trabalho na área operacional da Cia. Energética de Minas Gerais (CEMIG), onde estava havia dois anos e meio, e se tornou superintendente de Construção, Manutenção e Operação de Usina do DAEE.

Na época, o Estado de São Paulo enfrentava sérios problemas de energia em função do ritmo acelerado de crescimento. Tecnicamente, era mais rápido construir termoelétricas que hidrelétricas. Foram contratadas várias empreiteiras para as diversas etapas da obra, sob o comando do jovem engenheiro mineiro. 

Wellinghton tinha 27 anos e já era casado quando chegou ao Vale. A esposa, Maria Ignez e a primeira filha do casal, Ana Sofia com um ano e dois meses - foram morar em Itanhaém, no Litoral Sul, enquanto ele passava o dia comandando 300 funcionários na obra e, à noite, hospedava-se no único hotel de Juquiá. “Chegava tão cheio de barro que até assustava o pessoal”, diz a filha, relembrando as histórias contadas pelo pai. Só se encontrava com a família nos finais de semana quando fazia uma verdadeira maratona para chegar a Itanhaém.

Ele ia de jipe e a estrada de terra terminava em Peruíbe. Em local pré-determinado, esperava que passasse um caminhão de banana para seguir, em comboio pela praia, até Itanhaém.

Passava com o jipe sobre as marcas deixadas pelo caminhão para não atolar na areia. Se a maré estivesse alta, retornava ao ponto de partida, sem ver a esposa e a filha.

Depois de um ano, ficou pronta a casa do engenheiro na usina e a família mudou-se para Juquiá. “Foi uma vida muito sacrificada, mas como dizia meu pai, prazerosa no final, ao ver as cidades que antes tinham somente algumas horas de energia por dia, através de um gerador a diesel, ter energia 24 horas por dia. Era um prazer ver a alegria das pessoas e, para ele, era um prazer saber que usou tão bem os seus estudos. Se sentia realizado”, diz Ana Sofia.

O projeto da usina já estava pronto. Tratava-se de uma obra estratégica, tanto que o decreto que instituiu a construção da usina foi assinado pelo presidente Juscelino Kubitschek e a obra foi executada no governo de Estado de Jânio da Silva Quadros. “No Vale do Ribeira, meu pai literalmente ‘deu a luz’, pois não havia energia. Essa usina foi feita para gerar energia no Vale e para uma parte do litoral Sul e a partir de então havia energia por 24 horas”, relata a filha Ana Sofia.” Minha família e eu temos um orgulho muito grande em relação a essa usina”, afirma. A Usina Termoelétrica Vale do Ribeira, depois Usina Engenheiro Loyolla, foi inaugurada em 29 de janeiro de 1959 com a presença do então secretário estadual de Obras, Faria Lima, do ministro Álvaro de Souza Lima , Diretor do DAEE, além de outras autoridades. Maria Ignez, a jovem esposa de Wellinghton, foi convidada pelo secretário para cortar a fita de inauguração pois, segundo ele, foi a pessoa mais sacrificada por causa da obra.


Era difícil conseguir que autoridades estaduais se dispusessem a enfrentar o difícil acesso para chegar à região. Por isso o próprio Wellinghton ficou encarregado de inaugurar as subestações ou convidar uma autoridade local para fazê-lo. Invariavelmente, ele usava uma vassoura, símbolo do Jânio Quadros, para ligar a energia. 

Na época, Wellinghton também respondeu pelo Serviço do Vale do Ribeira (SVR/DAEE), em Pariquera-Açu. 

De 1965 a 1984, Wellinghton foi presidente e engenheiro eletricista da Cooperativa de Eletrificação e Telefonia Rurais de Registro (CETRUR), pioneira no gênero no Brasil e no Estado de São Paulo, com atuação em nove municípios. Paralelamente, como engenheiro do DAEE, foi comissionado junto à Prefeitura de Sete Barras, onde respondeu pelo Departamento Municipal de Obras. 

Foi proprietário da Fazenda Boa Vista, em Registro, tornando-se bananicultor e pecuarista de gado leiteiro e de corte. Em 1969, junto com vários produtores rurais da região, entre eles, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, implantou a primeira usina de laticínios do Vale do Ribeira – a USILEITE S/A.

Em 1973, como responsável pela Construtora CIT Terraplenagem, iniciou as obras da SP 139, no trecho Registro/Sete Barras. 

Além das atividades profissionais, Wellinghton sempre teve intensa atuação na comunidade, tendo sido sócio fundador e presidente do Lions Club de Registro; sócio fundador da ACIAR e associado da Associação dos Criadores Bovinos do Estado de São Paulo - ACBESP. Também atuou como conselheiro da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (OCESP) e membro de várias comissões organizadora da EXPOVALE, tendo sido um dos idealizadores do Centro Permanente de Exposição.

Em 1986, ele encerrou sua história no Vale do Ribeira e voltou a sua cidade natal para cuidar do seu pai, que estava doente, e de sua fazenda de café. Viveu entre Itajubá e Três Corações, onde moravam seus familiares.

Nascido em 2 de julho de 1930 , Wellighton Pinto Alves morreu em 15 de junho de 2016, em São Paulo. Deixou a esposa Maria Ignez Vianna Alves e os filhos Ana Sofia Viana Alves, Ana Lúcia Vianna Alves, Wellinghton Pinto Alves Junior e Ana Cristina Viana Alves Bonafé.

 

Projeto da usina de Juquiá é de Niemeyer

Após a morte de Wellinghton Pinto Alves, Ana Sofia decidiu escrever um livro contando a extraordinária história do pai. Durante a pesquisa sobre a termoelétrica de Juquiá, hoje denominada Usina Raduan, ela descobriu que o projeto arquitetônico era de autoria de Oscar Niemeyer, um dos maiores arquitetos do mundo. Para se ter uma ideia do que isso significa basta lembrar que a Universidade Federal de Itajubá tem 103 anos e Wellinghton foi, até hoje, o único aluno que executou um projeto de Niemeyer.

A partir daí, Ana Sofia iniciou contatos com o DAEE, com o Arquivo Público do Estado de São Paulo e com a Fundação Oscar Niemeyer, no Rio de Janeiro, visando a certificação do prédio. Sua intenção é doar essa certificação para a prefeitura de Juquiá, dona do imóvel, para o tombamento pelo Condephaat. Posteriormente, a Fundação Oscar Niemeyer pedirá o tombamento pelo Iphan, que é o órgão federal.

Ex-prefeitos de Juquiá já sonharam em dar uma ocupação digna para o prédio da antiga usina termoelétrica de Juquiá, preservando o patrimônio e a história. 

No final dos anos 1980, o ex-prefeito Tonico Alonso, que denominou o prédio com o nome de José Eduardo Vieira Raduan, tencionava transformá-lo numa escola técnica. Em 2001, o então prefeito Douglas Tamada chegou a conversar com diretores da Universidade Católica de Santos para que instalassem uma unidade naquele espaço.

O terreno da usina tem 93.309 metros quadrados, dos quais 5.608,44 metros quadrados são de área construída. Atualmente o prédio, em total abandono, tem algumas casas com moradores e a prefeitura usa parte da área para transbordo de lixo. 

O desejo de Ana Sofia é que, após a certificação e tombamento, o prédio seja transformado em escola, centro cultural ou centro de exposições. “Ganhará o município e, mais ainda, a região”, observa ela, opinando que a recuperação daquele imóvel também servirá ao desenvolvimento do turismo no Vale.

O panfleto de inauguração da termoelétrica