Supervisor de Saneamento, também se destacou como escritor, poeta e maestro,
além de ter fundado a Associação dos Negros de Registro
Nascido em Registro em 20 de maio de 1938, filho de lavradores e de uma família de 16 irmãos, Benevides Teixeira driblou o destino apontado pela pobreza e já na infância se destacou ao ajudar os colegas no aprendizado. Aos 17 anos, falava fluentemente o Latim, o Francês e o Inglês, sendo frequentemente chamado pelas autoridades e empresários da época para atuar como intérprete quando da visita de estrangeiros à cidade e região.
Aos 18 anos foi eleito vereador, sendo o primeiro mais jovem do Brasil. O gosto pela política, pelas multidões e pelos eventos levou Benevides a se aperfeiçoar na lida profissional. De visitador sanitário, conquistou o posto de respeitado supervisor de Saneamento na antiga Devale (hoje Departamento Regional de Saúde – ligado à Secretaria de Saúde do Estado). Seguindo a frase “quem não vive para servir, não serve para viver”, Benevides ia muito além das tarefas profissionais.
Com grande sensibilidade para as artes e aprendiz autodidata, liderou vários movimentos artísticos - culturais de vanguarda, como Bandas Musicais, Festivais, Carnavais, Desfiles e outras ações de promoção das tradições Afro-brasileiras, Rodas literárias. Foi condecorado Comendador pela Academia Paulista de Letras em solenidade realizada na capital paulista. Em 1982, conquistou o título de Músico Profissional Certificado e Habilitado pela Ordem dos Músicos do Brasil. Benevides dividiu o talento para a música e ensinou muitos a tocar instrumentos e cantar. Ele próprio tocava trompete, trombone e piano. Muitas bandas surgiram, estimuladas pelo Mestre Benevides.
Formado em Letras pela Faculdade Scelisul (hoje Unisepe), escrevia poemas, crônicas e romances. Entre suas obras, destaca-se o livro “Horrorosa Felicidade” (publicado em 1980), Girassóis Vermelhos (pronto para publicação), livretos com neologismos - “dialetos” de uso corrente pela população vale-ribeirinha deixada no acervo da biblioteca da Unisepe. Verdadeiro amante das letras, Benevides foi um ferrenho incentivador da leitura. Ele mobilizou a doação de centenas de exemplares de livros de temas diversos aos municípios da região, sobretudo Registro e Ilha Comprida, para que todos tivessem acesso à leitura. Outra célebre frase instigava os negros pobres sobretudo para a importância dos estudos para a conquista da dignidade. “Vai pra Escola, Negro!” contribuiu para que vários pobres (negros, brancos, nipônicos, indígenas) exercessem sua cidadania por meio dos estudos. Em 13 de maio de 1963, ele fundou a Associação dos Homens de Cor de Registro (hoje Associação dos Negros de Registro), cuja diretoria era composta por negros, brancos e nipônicos, inclusive mulheres. Sua atuação durante os 45 anos em que presidiu a Associação dos Negros de Registro lhe rendeu o convite para desfilar na Ala de Negros Notáveis pela Escola de Samba Nenê da Vila Matilde de São Paulo.
Benevides sempre contou com o apoio da esposa Maria de Lourdes do Carmo Teixeira, a quem homenageou ao escolher o nomes das quatro filhas: Selma Regina Maria do Carmo Teixeira, Sirlene Regina Maria do Carmo Teixeira, Sandra Regina Maria do Carmo Teixeira e Sara Regina Maria do Carmo Teixeira. Além de levarem o nome da mãe, o “Regina” significa Rainha em latim. Benevides conheceu dona Maria do Carmo quando trabalhava como visitador sanitário e vacinava cidadãos em escolas e residências. Foi numa dessas visitas que se encantou com a jovem.
De personalidade alegre e solidária, Benevides é descrito com um pai sempre atento e presente. Na maturidade, não abria mão de suas vestes tipicamente afro, sua marca registrada, assim como sua larga gargalhada e senso de humor ímpar. No dia 2 de maio de 2008, aos 70 anos, Benevides Teixeira concluiu sua missão neste mundo, deixando exemplo de dignidade e amor pela causa humana.