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Dom Apparecido José Dias


A luta pela posse da terra,contra usinas nucleares e em defesa dos excluídos

 

Ele também foi bispo de Roraíma e presidente nacional do 

Conselho Indigenista Missionário (CIMI)

 

 

Dom Apparecido José Dias foi ordenado em 16 de fevereiro de 1975 e, no mesmo dia, foi e empossado como primeiro bispo da então recém-criada Diocese de Registro. Ele havia sido ordenado padre em São Paulo, em 3 de agosto de 1958, e foi vigário de Iguape. 

 

Com a ajuda de poucos padres e algumas religiosas, Dom Apparecido foi dando vida à Diocese, usando como estratégia pastoral os mutirões e batidas, como chamavam à época, em cada município e nascomunidades. “Ele constatou a vida difícil do povo, marcado pelo abandono e extrema pobreza”, conta seu sucessor, o bispo Dom José Luiz Bertanha. 

 

Dono de uma visão cristã e sensibilidade social aguçadas, Dom Apparecido fortaleceu a presença da Igreja na vida do povo atingido por enchentes do Rio Ribeira, na defesa dos sitiantes, pequenos produtores e na atenção aos pescadores, indígenas e quilombolas. 

 

Dom Apparecido começou a atuar na região no período em que os militares ocupavam o poder político e seu trabalho chamou a atenção da polícia política. Em fevereiro de 1982, agentes do extinto DEOPS (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) anotaram em seus prontuários que Dom Apparecido havia coordenado comitiva, composta por 14 padres, que esteve na Praia do Una, região do Rio Verde, onde instalaram num antigo cemitério uma placa em sinal de protesto contra a instalação de usinas nucleares na Estação Ecológica da Juréia. 

 

A grande cheia do Ribeira, em 1987, penalizou centenas de famílias rurais e na periferia de Registro. Dom Apparecido propôs, à época, o projeto denominado “Vila dos Padres”, na Vila São Francisco, em que a Igreja doou pequenos lotes e ajuda com material de construção para 28 famílias que havia perdido suas casas. Sob liderança de Dom Apparecido, a Diocese de Registro contratou advogado para solucionar conflitos pela posse da terra em áreas rurais. O projeto em defesa do homem do campo teve como resultado a realização de Romarias da Terra, que trouxe à região a maioria dos bispos em atuação no Estado de São Paulo, amplificando a voz do campo e a situação dos posseiros.

 

Na mesma época, no litoral, os padres João 30 e José Weber realizaram inúmeras reuniões e encontros na associação de pescadores em busca de melhor qualidade de vida e trabalho para os pescadores da região. Unidos, eles passaram a ter força, principalmente na época do defeso, quando não podem exercer a atividade.

 

Em defesa da vida do povo, das terras, do meio ambiente, cultura e história surgiu o Movimento dos Ameaçados por Barragens no Vale do Ribeira (MOAB), que comemorou recentemente 25 anos de existência. A história da luta contra a barragem é contada no livro “A Saga de um Povo”, de autoria de Maria Aparecida Mendes. 

 

Em 1996, Dom Apparecido foi chamado pela Igreja do Brasil a assumir, em Roraima, a única Diocese existente naquele estado. Como presidente da Comissão Missionária Indigenista (CIMI), da CNBB, Dom Apparecido defendeu, lutou e acompanhou as diversas etnias indígenas da região amazônica. Enfrentou um longo conflito na Reserva Indígena Raposa Serra do Sol, sofreu humilhações e perseguições. Foram oito anos de um intenso trabalho junto aos indígenas, em nome da Igreja, pela CNBB. “Tudo na grande opção de vida de viver e agir nos ensinamentos de Jesus Cristo. Um mártir à serviço da vida dos indígenas”, conclui Dom José Luiz. 

 

Nascido em Itajobi, no interior de São Paulo, em 28 de dezembro de 1931, Dom Apparecido morreu em Boa Vista, Roraima, em 29 de maio de 2004, encerrando uma vida dedicada à luta pela Justiça Social.