Agricultor e fiscal do DNER, imigrante japonês é nome de rua no Cecap
Como a grande maioria dos imigrantes japoneses que vieram parao Brasil no início do século XX, Masateru Samitsu tinha o desejo de enriquecer e retornar para sua terra de origem. Com a grave crise econômica vivida pelo Japão na época,o governo incentivava a migração.Em 1912, com apenas 14 anos, Masateru aceitou o convite do tio e veio para o Brasil com a intenção de fazer fortuna. Filho mais velho, ele deixou para trás os pais e irmãos em busca de um sonho. Chegando aqui,a realidade foi bem diferente.
Das fazendas de café, ele veio com o tio para Registro, onde ficou até completar a maioridade. Depois, foi tentar a sorte em São Paulo. Na cidade grande, fez de tudo um pouco: trabalhou como motorista de táxi e até de faxineiro. Aos 30 anos,o tio – conhecido como Sakô – lhe arrumou uma esposa. Alice Yoshiko morava em Sete Barras e era quase 15 anos mais nova: ela tinha 16 anos e Masateru, 30. Depois de casarem, eles foram morar no bairro Serrote em Registro, onde Mário Samitsu – como acabou sendo chamado no Brasil – passou a cuidar das terras de um japonês que havia voltado ao Japão.
Ali, o casal plantou café, chá e outros produtos para subsistência. Na medida em que os filhos iam crescendo, passavam a ajudar na lavoura. Depois do mais velho Norberto, vieram Ecila (já falecida), Nilo (falecido), Iara, Ademar e Mariano (também falecido). Com a morte do tio em um acidente de caminhão em Lins, Mário acabou adotando os primos. Além dos quatro filhos, o tio deixou a esposa grávida. Mário eYoshiko Samitsu acolheram a família. Depois de crescidos, os primos foram conseguindo outros empregos e deixaram o sítio no Serrote.
Com os filhos tomando conta das lavouras de chá, Mário Sakô (como também ficou conhecido em Registro) passou a auxiliar na administração da Cooperativa Agrícola de Cotia. Como dominava bem o idioma português, ele ajudava muito os imigrantes japoneses. Mais tarde,se naturalizou brasileiro e foi contratado pelo antigo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), onde se aposentou como fiscal.
Nas horas vagas, Mário Samitsu gostava de jogar xadrez. Além dos filhos, ele ensinava também os jovens e adultos no RBBC. Era seu passatempo favorito. Homem extrovertido e bastante envolvido na comunidade, Mário Samitsu conquistou muitos amigos em Registro. Apenas uma tristeza carregava no coração. Depois da Segunda Guerra Mundial, ele perdeu totalmente o contato com a família que deixara no Japão. Passados quase 30 anos, os filhos o incentivaram a buscar informações no Consulado Japonês em São Paulo. Para alegria de Mário Samitsu, tempo depois ele recebeu a notícia que tanto queria ouvir: a mãe e os irmãos estavam bem. Após contatos por carta, o imigrante finalmente conseguiu retornar ao Japão para rever a família. Sua mãe estava com mais de 90 anos de idade. Numa excursão que duraria um mês, Mário retornou a Hiroshima, onde nasceu em 1º de agosto de 1898. Mas antes de voltar ao Brasil, ele acabou internado com complicações respiratórias. Mário tinha asma e tomava muitos medicamentos. O corpo não resistiu às mudanças climáticas e ele morreu no hospital, uma semana antes da viagem de volta. Seu corpo foi cremado no Japão e suas cinzas foram trazidas ao Brasil. Mário Samitsu morreu aos 74 anos, no dia 7 de junho de 1972. Em homenagem, o município deu seu nome a uma das ruas do Bairro Cecap. A esposa Yoshiko morreu em1986 e também empresta seu nome a uma rua no Bairro Serrote, onde o casal viveu por tantos anos.