Fundadora do Patinho Feio e do Colégio Andersen
Em homenagem à dedicação que sempre manteve à educação e à cultura, o município nomeou
o auditório do Centro Cultural KKKK como Teatro Wilma Bertelli
O sorriso doce, a fala suave e a saúde frágil podiam até disfarçar, mas não conseguiam esconder a ousadia e a determinação de Wilma Lúcia Bertelli Maeji. A história prova que ela rompeu barreiras e construiu, passo a passo, seu grande sonho de educadora. Filha de Paschoalina Bertelli e do Brigadeiro do Ar Alberto Bertelli, Wilma aprendeu a pilotar aviões com o pai e foi a primeira mulher a tirar carteira de habilitação (para dirigir automóveis) em Registro.
Quando estava prestes a conseguir o brevê, abriu mão da aviação por amor. Noiva de Masayuchi Maeji, ela se viu obrigada a escolher entre o casamento e os voos pelos céus de Registro. Em julho de 1960, Wilma casou com o jovem Matian (apelido carinhoso do marido), que havia conhecido durante os preparativos da 1ª Festa do Chá, sete anos antes.
Além de desistir de uma das suas maiores paixões, Wilma teve que se adaptar à cultura japonesa. Dedicada em tudo que fazia, a jovem chegou a aprender a ler, escrever e falar em japonês. Na culinária, além da tradicional macarronada de domingo – sua especialidade -, ela também preparava os deliciosos pratos da gastronomia japonesa.
Wilma e Matian tiveram quatro filhos: Sílvia Bertelli Maeji, Silvio Alberto Bertelli Maeji, Celso Luiz Bertelli Maeji e Simone Maria Bertelli Maeji. A perda da filha mais velha em 1993 foi um dos momentos mais tristes para Wilma. “Foi como se a vida tivesse parado no tempo”, ela escreveu, tempo depois.
Graças ao trabalho, Wilma conseguiu recuperar as forças, ainda que a saúde apresentasse sinais de fragilidade. O problema renal se agravou e foi preciso iniciar as sessões de diálise e hemodiálise. Mais tarde, ela passou por um transplante. A professora recebeu o rim da irmã Vera Bertelli Costa. “É através do sorriso das crianças que a vida se renova”, registrou dona Wilma, em algumas anotações. Se voar era uma paixão, educar sempre foi uma nobre missão de amor e doação.
Foi ainda pequenina, após um gesto rude da primeira professora, que Wilma decidiu que faria Magistério para mudar o velho método de bater nos alunos com réguas e apagadores. Wilma nasceu em São Paulo, no Bairro do Butantã, no dia 1º de fevereiro de 1936. Ainda criança, mudou-se para Sorocaba, onde o pai foi instrutor de voo. Em 1951, Alberto Bertelli decidiu implantar o serviço de taxi aéreo no Litoral Sul. A família morou um ano em Iguape antes de virem para Registro.
Wilma cursou a 8ª série no Ginásio Estadual de Registro e depois fez o Curso Normal (1954-1956).
Nessa época, a jovem já dava aulas de iniciação musical (ela tocava piano e acordeon), pintura e reforço para crianças em sua própria casa. Em 1959, já lecionava Francês e Economia Doméstica no Colégio Fábio Barreto, mas continuava com as aulas em casa. E o sonho de ter a própria escola começava a tomar forma.
O número de alunos aumentava e exigia um espaço maior. Até que, em 1972, as aulas mudaram para uma casa que Matian possuía num bom terreno na cidade. Casa reformada, terreno murado e muita dedicação: surge o Recreio Infantil O Patinho Feio. De 1973 a 1976, Wilma cursou Pedagogia.
A cada ano, a escola crescia e outra sala era construída para atender as crianças de 2 a 6 anos. Com a necessidade de continuar os estudos dos alunos, que estranhavam o método de ensino das escolas tradicionais, em 1987 foi criado o Ensino Fundamental. A educação infantil ficou com o Patinho Feio e surgiu então o Colégio Andersen.
Além de cuidar da própria escola, dona Wilma ainda era professora efetiva do Estado. Ela se aposentou em 1992, após 30 anos de serviço. E em 1998, a escola implantou o Ensino Médio, completando o ciclo de formação dos alunos até o ingresso na faculdade.
Sempre dedicada a oferecer o melhor método de ensino aos alunos, a educadora prezava pelo carinho e fazia da escola a extensão da casa de cada um. Talvez por isso nunca de deixou de ser tratada como “Tia Wilma”, mesmo pelos ex-alunos que, já profissionais formados, voltavam ao Andersen só para fazer uma visita.
Dona Wilma Bertelli Maeji perdeu a luta contra os problemas renais em dezembro de 2012, mas continua viva na lembrança e no aprendizado de cada aluno que passou pelo Patinho Feio e Colégio Andersen.